Luthier Pepineli e a “Raiz”. |
Sempre admirei quem tem a
capacidade de criar um produto a partir de elementos muito simples,naturais,
ou mesmo do nada: o agricultor que seleciona sementes e colhe sua plantação
meses depois, o artista plástico que a partir do barro cria e recria formas, o
criador que tem olho clínico para saber qual o melhor acasalamento para
melhorar seu plantel, o instrumentista que de suas mãos ou de seu sopro faz
música, etc.
O luthier, ofício de quem fabrica
instrumentos musicais, é um misto disso tudo! A partir de uma seleção de
madeiras, que são trançadas e ajustadas de forma harmônica e equilibrada,
associadas a umas poucas peças e alguns enfeites requintados de um artista
plástico, produz artesanalmente um instrumento musical único, impossível de ser
“clonado”, fruto de suor, paixão e cálculos – quase como uma boa canção! – e
que quando o cabra é dos bons, para ele sempre daria pra melhorar e pra gente
está perfeito!
Eu freqüento oficinas de
luthieres desde a adolescência e sempre achei um lugar mágico. Me fascinava o
cheiro das madeiras, a linearidade dos veios e, mais que tudo, a forma como
conseguem sua matéria prima. É muito divertido ouvir histórias do tipo “esse
tampo de jacarandá consegui comprando uma mesa de uma velhinha...” ou “achei
uma escrivaninha de imbuia no lixo e guardei alguns pedaços para fazer tal
instrumento”. Afinal de contas, as madeiras de lei leves estão cada vez mais
raras, e esses profissionais acabam correndo atrás de móveis antigos para fazer
um estoque de madeiras envelhecidas – e assim mais secas, com melhores
propriedades acústicas – para seus futuros instrumentos.
Estou aqui tocando numa violinha
nova. Feita de jacarandá – para não fugir à regra, um pedaço de um antigo
guarda-roupas – pinho e ébano. Já virou meu xodó. Minha filhinha, que tem mania
de colocar nome em tudo, batizou a violinha de “Raiz”. Genial! Imagino a
felicidade da árvore que serviu à natureza (fauna e flora) por dezenas de anos,
e que depois serviu a uma família sendo um guarda-roupas e que agora pode ter
seu canto entoado pelas cordas da “Raiz”. Vou usar a Raiz na minha próxima
gravação e o canto dessa bem-aventurada árvore será imortalizado nos registros
audiofônicos de alguém – espero que pelo menos da minha família! Haha!
Essa árvore satisfeita e este
violeiro feliz que vos escreve, deve a alegria do nascimento da “Raiz” a um
luthier. Não sei se existe o “dia nacional do luthier”, acredito que sim, mas
como não sei qual é, fica aqui minha homenagem, atrasada ou adiantada: vocês
são geniais e fazem do nosso mundo um lugar melhor!
Vai meu sincero agradecimento ao
meu novo amigo Luiz Carlos Pepineli, de São Paulo, que moldou a “Raiz” em suas
mãos. Conheça um pouco do seu trabalho em http://www.pepineli.com.br/
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