segunda-feira, 1 de julho de 2013

Luthier: vida eterna às árvores!




Luthier Pepineli e a “Raiz”.
Sempre admirei quem tem a capacidade de criar um produto a partir de elementos muito simples,naturais, ou mesmo do nada: o agricultor que seleciona sementes e colhe sua plantação meses depois, o artista plástico que a partir do barro cria e recria formas, o criador que tem olho clínico para saber qual o melhor acasalamento para melhorar seu plantel, o instrumentista que de suas mãos ou de seu sopro faz música, etc.

O luthier, ofício de quem fabrica instrumentos musicais, é um misto disso tudo! A partir de uma seleção de madeiras, que são trançadas e ajustadas de forma harmônica e equilibrada, associadas a umas poucas peças e alguns enfeites requintados de um artista plástico, produz artesanalmente um instrumento musical único, impossível de ser “clonado”, fruto de suor, paixão e cálculos – quase como uma boa canção! – e que quando o cabra é dos bons, para ele sempre daria pra melhorar e pra gente está perfeito!

Eu freqüento oficinas de luthieres desde a adolescência e sempre achei um lugar mágico. Me fascinava o cheiro das madeiras, a linearidade dos veios e, mais que tudo, a forma como conseguem sua matéria prima. É muito divertido ouvir histórias do tipo “esse tampo de jacarandá consegui comprando uma mesa de uma velhinha...” ou “achei uma escrivaninha de imbuia no lixo e guardei alguns pedaços para fazer tal instrumento”. Afinal de contas, as madeiras de lei leves estão cada vez mais raras, e esses profissionais acabam correndo atrás de móveis antigos para fazer um estoque de madeiras envelhecidas – e assim mais secas, com melhores propriedades acústicas – para seus futuros instrumentos.

Estou aqui tocando numa violinha nova. Feita de jacarandá – para não fugir à regra, um pedaço de um antigo guarda-roupas – pinho e ébano. Já virou meu xodó. Minha filhinha, que tem mania de colocar nome em tudo, batizou a violinha de “Raiz”. Genial! Imagino a felicidade da árvore que serviu à natureza (fauna e flora) por dezenas de anos, e que depois serviu a uma família sendo um guarda-roupas e que agora pode ter seu canto entoado pelas cordas da “Raiz”. Vou usar a Raiz na minha próxima gravação e o canto dessa bem-aventurada árvore será imortalizado nos registros audiofônicos de alguém – espero que pelo menos da minha família! Haha!

Essa árvore satisfeita e este violeiro feliz que vos escreve, deve a alegria do nascimento da “Raiz” a um luthier. Não sei se existe o “dia nacional do luthier”, acredito que sim, mas como não sei qual é, fica aqui minha homenagem, atrasada ou adiantada: vocês são geniais e fazem do nosso mundo um lugar melhor! 

Vai meu sincero agradecimento ao meu novo amigo Luiz Carlos Pepineli, de São Paulo, que moldou a “Raiz” em suas mãos. Conheça um pouco do seu trabalho em http://www.pepineli.com.br/



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