Acabo de ler “Travessia”, da
Juliana Simonetti, que narra sua aventura ao refazer montada numa mula a viagem
de 10 dias que Guimarães Rosa fez em 1952 e que inspirou seus grandes clássicos
“Grande sertão: Veredas” e os livros da obra “Corpo de Baile”.
Tive a impressão que o objetivo
inicial da autora era principalmente jornalístico, descrevendo os lugares, a
jornada e entrevistando as personagens que ainda estão vivas naquele sertão
desde o tempo da viagem original. Mas ela foi muito além. “Nascia ali uma
vaqueira” – como ela mesma afirmou. Não por ter desenvolvido surpreendentemente
em 10 dias todas as habilidades de vaquejar, mas sim por ter sentido na pele os
contrastes de chuva e sol, risos e silêncio, companheirismo e solidão, fartura
e sede, leveza na alma e dores no corpo que um vaqueiro experimenta em seu
dia-a-dia.
Dessa forma também a linguagem
jornalística acabou dando lugar a muita poesia, e da boa, como pequenas flores
do campo que crescem nas frestas das calçadas de cimento e acabaram tornando a
narrativa da Juliana cheia de uma beleza peculiar, proporcionando risos e
lágrimas a poucos parágrafos de distância.
Ela conclui: “O sertão me ensinou
que a gente cresce quando volta a desaprender. Mostrou que a hora certa pra
acordar é antes de estrela ir dormir. Que água gelada de córrego revela a
quentura da alma. Que montado a passo de mula, o pensamento voa longe(...)”
Conclusões de uma excelente
vaqueira. Excelente escritora...