terça-feira, 2 de julho de 2013

O causo do Boto




Só acredito porque eu estava lá.


Faz uns dois anos. Estava navegando pelo rio Amazonas numa balsa de gado. Já era o quarto ou quinto dia de viagem. A tripulação era composta pelo comandante, Camarão, o prático, Seu Tião e os vaqueiros Josias e Edielson. Este, por algum motivo que não me importava, estava com sua esposa, a Marcilene. Parece que ele era ciumento ou algo assim e isso era uma piada recorrente com a rapaziada. Era um casal jovem. Deviam ter uns vinte e poucos anos.


Estávamos voltando da longa viagem com o gado. As anedotas, lições, causos familiares, vantagens e desvantagens, desabafos, já haviam ficado pelo caminho na vinda... A volta era marcada pelo cansaço e mergulho na rede de dormir, pra ver se o tempo passava mais rápido.


Até que aconteceu. A monotonia foi quebrada quando o Seu Tião gritou: “Olha o boto buiando atrás da balsa!” Corri para poder ver o raro mamífero, o golfinho das águas amazônicas, animal lendário com um instinto amistoso, por muitos ribeirinhos tratado como de estimação... quando BANG! BANG! BANG!  - o Edielson sacou uma cartucheira e começou a disparar na água!!


- Você está louco, rapaz! O que ta fazendo?! – gritei.


Ele, sem ouvir, preparou o próximo tiro e gritou com o boto:


- Buia aqui seu F. D. P. que eu te acerto, desgraçado!!


- Mas o que você ta fazendo, Edielson?! Ficou louco?! Deixa o bichinho!


- Não doutor! Esse desgraçado só segue a gente quando a minha muié tá com a gente na balsa! Eu quero que ele morra pra lá mas não chegue perto da Marcilene!!


Graças a Deus o bicho se assustou e vi que ele saiu de trás da balsa sem se ferir.


Entendi porque tanta piada com as crises de ciúmes do Edielson, e pela intensidade da sua fúria, o repertório de provocações do pessoal devia ser caudaloso como o Amazonas! Não sei, nem quero saber o que a Marcilene já aprontou na vida, mas provavelmente a resposta ao marido foi: “Foi o boto meu bem...”


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