Faz uns dois anos. Estava
navegando pelo rio Amazonas numa balsa de gado. Já era o quarto ou quinto dia
de viagem. A tripulação era composta pelo comandante, Camarão, o prático, Seu
Tião e os vaqueiros Josias e Edielson. Este, por algum motivo que não me
importava, estava com sua esposa, a Marcilene. Parece que ele era ciumento ou
algo assim e isso era uma piada recorrente com a rapaziada. Era um casal jovem.
Deviam ter uns vinte e poucos anos.
Estávamos voltando da longa
viagem com o gado. As anedotas, lições, causos familiares, vantagens e
desvantagens, desabafos, já haviam ficado pelo caminho na vinda... A volta era
marcada pelo cansaço e mergulho na rede de dormir, pra ver se o tempo passava
mais rápido.
Até que aconteceu. A monotonia
foi quebrada quando o Seu Tião gritou: “Olha o boto buiando atrás da
balsa!” Corri para poder ver o raro mamífero, o golfinho das águas amazônicas,
animal lendário com um instinto amistoso, por muitos ribeirinhos tratado como
de estimação... quando BANG! BANG! BANG! - o Edielson sacou uma
cartucheira e começou a disparar na água!!
- Você está louco, rapaz! O que
ta fazendo?! – gritei.
Ele, sem ouvir, preparou o
próximo tiro e gritou com o boto:
- Buia aqui seu F. D. P.
que eu te acerto, desgraçado!!
- Mas o que você ta fazendo,
Edielson?! Ficou louco?! Deixa o bichinho!
- Não doutor! Esse desgraçado só
segue a gente quando a minha muié tá com a gente na balsa! Eu quero que
ele morra pra lá mas não chegue perto da Marcilene!!
Graças a Deus o bicho se assustou
e vi que ele saiu de trás da balsa sem se ferir.
Entendi porque tanta piada com as
crises de ciúmes do Edielson, e pela intensidade da sua fúria, o repertório de
provocações do pessoal devia ser caudaloso como o Amazonas! Não sei, nem quero
saber o que a Marcilene já aprontou na vida, mas provavelmente a resposta ao
marido foi: “Foi o boto meu bem...”
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