As Ronaldas
Cada compositor tem um “jeitão”
de fazer a criança nascer.
Uns criam tudo junto, letra e música.
Outros fazem
isso por partes.
Nesse processo eu sou escravo da música. Quando a música nasce
(geralmente são partos laboriosos) ela já me diz o que a letra cantará.
Para compor AS RONALDAS foi o
contrário.
Sempre admirei os letristas das
clássicas modas de viola com suas histórias
compridas e de desfechos
surpreendentes, aproveitando cada sílaba e tecendo
um texto claro e conciso.
Desafiei a mim mesmo a compor uma “modona” dessas.
À moda antiga.
Como em quase todas as minhas
composições, conversei com a minha
esposa sobre a ideia.
Pensamos em vários
possíveis enredos e aí lembramos de um fato engraçado:
Na primeira gravidez da minha
esposa, antes de sabermos o sexo do bebê,
meu amigo Alexandre Robles sai com
essa:
“Sonhei que o bebê era uma menina e vocês a batizavam de Ronalda!”.
Minha esposa de voleio respondeu:
"Seria mais fácil nascer uma mula no nosso sítio
com esse nome do que a minha filha!”
Quero deixar claro que não tenho nada
contra
o belo nome Ronalda, inclusive
não me sinto no direito de zombar do nome de
ninguém, afinal de contas, Arlindo também não é um nome que os
atuais
cartorários estejam habituados a ouvir da boca dos pais
no momento do
registro!
Bem, se alguma leitora se chama Ronalda ou pior, tem uma filha
chamada Ronalda e está com raiva de mim pela canção, quero que se sinta
vingada:
os Mamonas Assinas já gravaram “Uma Arlinda mulher”,
um tremendo
sucesso no Brasil inteiro nos anos 90.
Ouça no youtube e ria de mim à vontade.
Mas voltemos à composição de AS
RONALDAS.
Após um tempo bolando a estória,
escrevi e re-escrevi a letra um monte
de vezes
até a métrica bater e o enredo fluir.
Foi interessante revisar algumas
datas e conferir se eram contemporâneas,
pois a narrativa acontecia no tempo da
guerra do Paraguai,
da fundação da cidade natal dos meus pais, Itaperuna-RJ,
e
do início e apogeu da feira de muares e equinos que
acontecia em Sorocaba-SP,
parada obrigatória dos bandeirantes
de todo o sul e sudeste brasileiro.
Só
depois criei a melodia.
Assim nasceu a canção de um
tropeiro fluminense,
que foi a procura de uma mula na feira de Sorocaba e
acabou se apaixonando
pela donzela Ronalda, que era homônima
da besta teimosa e
empacadeira que o tropeiro comprou.
Gostei do resultado e quero
continuar compondo canções nesse estilo.
Se você sabe algum “causo” bom que possa
virar uma “modona”, compartilha
comigo? Pode ser que eu consiga transformá-lo
em música! : )