quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Meu pé de Kinkan





Quando adquirimos a nossa terrinha ele já estava lá. Eu chamava seu fruto de “laranjinha”. Foi minha amiga Sara Muller que me disse: “Que legal! Você tem um pé de kinkan em seu pomar!” e assim me apresentou formalmente ao Fortunella margarita.


A despeito da tendência natural humana de acrescentar um ponto ao conto, serei honesto: meu pé de kinkan não é uma Brastemp. Já adubei seu pé, já tentei tirar umas pragas que vivem aparecendo em seus galhos, mas ele não aumenta sua produção. 


Toda vez que chego na nossa terrinha, depois de cumprimentar as pessoas e os animais, vou dar uma olhadinha pra ver se tem alguma laranjinha madura. Na maioria das vezes acho umas 2 quase boas. Às vezes tem umas verdes que não dá pra tirar do pé e muito, muito raramente acho aquela preciosidade, amarelinha como um canarinho da terra e docinha como um favo que, sem nem sequer assoprar, ponho na boca e me delicio. 


O interessante é que já virou uma atração à parte para mim o suspense do momento em que me aproximo da arvorezinha... “O que será que o pé de kinkan tem pra mim hoje?”


Estou suspeitando que nossa vida seja como esse pé de kinkan. Temos que saber apreciá-la como ela é. Mesmo que não esteja sempre repleta de deliciosas frutas maduras, teremos que saber nos contentar com algumas laranjinhas quase boas. Às vezes teremos que saber esperar pra poder colher. A verdade é que muito raramente teremos o deleite de um glorioso fruto de ouro, seja ele uma vitória, uma notícia, um reconhecimento, um relacionamento, um negócio, etc. Ter a expectativa certa sobre a árvore da nossa vida nos livra da decepção de achar que poderíamos ter frutas em escala industrial a partir de um pezinho de kinkan. Essa decepção se alastra como uma praga daninha e causa a doença que é o mal deste século, a depressão.


Preciso continuar adubando e curando minha arvorezinha, mas sei que o mais importante é manter a satisfação de poder passear ao seu redor e poder olhar com cuidado no interior de seus galhos procurando algum fruto que eu possa degustar e oferecer aos meus queridos.

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