Quando adquirimos a nossa
terrinha ele já estava lá. Eu chamava seu fruto de “laranjinha”. Foi minha
amiga Sara Muller que me disse: “Que legal! Você tem um pé de kinkan em seu
pomar!” e assim me apresentou formalmente ao Fortunella margarita.
A despeito da tendência natural
humana de acrescentar um ponto ao conto, serei honesto: meu pé de kinkan não é
uma Brastemp. Já adubei seu pé, já tentei tirar umas pragas que vivem
aparecendo em seus galhos, mas ele não aumenta sua produção.
Toda vez que chego na nossa
terrinha, depois de cumprimentar as pessoas e os animais, vou dar uma olhadinha
pra ver se tem alguma laranjinha madura. Na maioria das vezes acho umas 2 quase
boas. Às vezes tem umas verdes que não dá pra tirar do pé e muito, muito
raramente acho aquela preciosidade, amarelinha como um canarinho da terra e
docinha como um favo que, sem nem sequer assoprar, ponho na boca e me delicio.
O interessante é que já virou uma
atração à parte para mim o suspense do momento em que me aproximo da
arvorezinha... “O que será que o pé de kinkan tem pra mim hoje?”
Estou suspeitando que nossa vida
seja como esse pé de kinkan. Temos que saber apreciá-la como ela é. Mesmo que
não esteja sempre repleta de deliciosas frutas maduras, teremos que saber nos
contentar com algumas laranjinhas quase boas. Às vezes teremos que saber
esperar pra poder colher. A verdade é que muito raramente teremos o deleite de
um glorioso fruto de ouro, seja ele uma vitória, uma notícia, um
reconhecimento, um relacionamento, um negócio, etc. Ter a expectativa certa
sobre a árvore da nossa vida nos livra da decepção de achar que poderíamos ter
frutas em escala industrial a partir de um pezinho de kinkan. Essa decepção se
alastra como uma praga daninha e causa a doença que é o mal deste século, a
depressão.
Preciso continuar adubando e
curando minha arvorezinha, mas sei que o mais importante é manter a satisfação
de poder passear ao seu redor e poder olhar com cuidado no interior de seus
galhos procurando algum fruto que eu possa degustar e oferecer aos meus
queridos.
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