segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Travessia: descrições e ensinamentos por Juliana Simonetti




Acabo de ler “Travessia”, da Juliana Simonetti, que narra sua aventura ao refazer montada numa mula a viagem de 10 dias que Guimarães Rosa fez em 1952 e que inspirou seus grandes clássicos “Grande sertão: Veredas” e os livros da obra “Corpo de Baile”.


Tive a impressão que o objetivo inicial da autora era principalmente jornalístico, descrevendo os lugares, a jornada e entrevistando as personagens que ainda estão vivas naquele sertão desde o tempo da viagem original. Mas ela foi muito além. “Nascia ali uma vaqueira” – como ela mesma afirmou. Não por ter desenvolvido surpreendentemente em 10 dias todas as habilidades de vaquejar, mas sim por ter sentido na pele os contrastes de chuva e sol, risos e silêncio, companheirismo e solidão, fartura e sede, leveza na alma e dores no corpo que um vaqueiro experimenta em seu dia-a-dia. 


Dessa forma também a linguagem jornalística acabou dando lugar a muita poesia, e da boa, como pequenas flores do campo que crescem nas frestas das calçadas de cimento e acabaram tornando a narrativa da Juliana cheia de uma beleza peculiar, proporcionando risos e lágrimas a poucos parágrafos de distância.


Ela conclui: “O sertão me ensinou que a gente cresce quando volta a desaprender. Mostrou que a hora certa pra acordar é antes de estrela ir dormir. Que água gelada de córrego revela a quentura da alma. Que montado a passo de mula, o pensamento voa longe(...)”


Conclusões de uma excelente vaqueira. Excelente escritora...


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